Um dos jogadores mais regulares do Botafogo desde que Luís Castro assumiu o comando técnico, Tchê Tchê revelou ter sofrido depressão. À época, em 2019, pelo São Paulo, o jogador sentiu dores no estômago e ligou o alerta: as coisas não andavam bem.
– Começou com uma dor de estômago. Fiz uma endoscopia e os médicos viram que estava tudo vermelho, bem mal. Uma gastrite nervosa, nervosíssima. Na sequência foi chegando uma tristeza esquisita, meio fora de hora e de lugar. Eu me sentia pra baixo, mas, como não tinha motivo nenhum praquilo, deixava pra lá achando que logo ia melhorar. Não melhorou. A tristeza me engoliu – desabafou Tchê Tchê em texto publicado no portal The Players Tribune, especializado em relatos de atletas, em primeira pessoa.
– Eu levantava de manhã pra ir treinar, mas não tinha vontade. Nem de treinar, nem de jogar, tá ligado? Fui ficando sem ânimo pra fazer as coisas, não queria sair de casa. O sofá e o colchão da cama me sugavam como se fossem areia movediça. Eu só afundava e chorava. Chorava o tempo todo – continuou o jogador.
Tchê Tchê relata que não contou a ninguém do clube o que estava sentindo. Para ele, era difícil explicar que não sentia vontade de fazer o que mais amava, jogar futebol. Entrar em campo a cada três dias em frente a uma multidão o assustava, pois sentia que era julgado.
– E não é que eu estivesse passando a noite na farra, bebendo e tal. Não era isso. Eu estava deprimido. E me sentia culpado por estar.
Hoje, o jogador reconhece que sua passagem Dynamo Kiev pode ter tido grande influência sobre seu estado psicológico. Na Ucrânia, o frio, uma lesão que tirou oportunidades do volante e a falta de convivência com familiares e amigos pesaram muito.
– Depois de cinco meses só saindo de casa pra treinar e jogar, um dia fui ao cinema com a minha esposa. Foi difícil e estranho estar no meio das pessoas. Eu achava que me olhavam, sabiam que eu sofria de depressão e pensavam “mas que frescura”. Tem muita gente que acha que depressão é frescura. Não é. A galera olha pra gente, jogador profissional, e só enxerga o carro, a casa, o salário, as taças.
Depois de passar pelo Atlético-MG, Tchê Tchê chegou ao Botafogo no início do ano, na primeira janela de transferências.
– Agora no Botafogo, sou de novo a melhor versão de mim – declarou, antes de contunuar:
– Sei disso porque cheguei com sede de aprender, de me tornar um jogador mais completo, de continuar sendo o cara que carrega o piano pros companheiros tocarem. O guerreirinho de sempre, que, se precisar, vai correr pelos outros.
Tchê Tchê buscou ajuda profissional apenas depois de ter superado a pior parte da depressão. Se você se identificou com os relatos do jogador ou conhece alguém que esteja vivendo o mesmo, ligue para o Centro de Valorização da Vida. O número é 188.
O serviço realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.
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